Hoje iria depressa para casa, tinha um encontro marcado com uma enorme caneca de chocolate quente e com Edward. Adeus Mr. Darcy! Olá Edward!(disse com um enorme sorriso nos lábios). Estacionei no 1º lugar que me apareceu na rua. Cumprimentei uma vizinha às pressas dizendo que tinha pressa ... -Então vai ter alguma reunião? - Não, tenho um compromisso!- disse muito depressa. -Ah um encontro! Corei, podia-se dizer que sim... que era um encontro com uma personagem fictícia. A personagem vampira, impressa em 4 livros e profundamente apaixonada por uma humana. Suspirei a pensar no meu livro de oitocentas e muitas páginas prontinho a ser aberto e desfolhado. Deixei a minha vizinha a maquinar e fui para o elevador carregada de envelopes e pastas. Cinco minutos depois, elevador cheio, esvazio os pulmões e gasto os últimos sorrisos semi-abertos entre uns boas noites sussurrados. Nunca percebi como os meus vizinhos sabiam o meu nome e tinham sempre um sorriso aberto em cumprimento à minha presença sendo eu quase anti-social. Com ênfase no quase. Entrei e fiquei compostinha até ao 2º andar onde saiu a loira do B. Respirei fundo e atirei tudo para o chão, ainda faltavam 6 até ao oitavo. O elevador soluçou e as portas abriram-se à força de braços. Ele entrou espalhando a sua fragância quando os seus desordenados cabelos negros dançavam enquanto ele se movimentava. Olhou para a minha expressão tonta e sorriu, com um sorriso enorme e brilhante. Cumprimentou-me educadamente perguntando se queria ajuda com os sacos e pedindo desculpa se me tinha assustado. Os seus olhos verdes brilhavam de divertimento. Senti-me uma miudinha tonta e atrapalhada que vai de totos para o secundário. - Agradeço mas não é necessário, saio daqui a pouco. E fui eu que coloquei a tralha no chão. Afinal, ninguém tinha entrado... de forma normal!- Senti imediatamente animosidade em relação aquela voz rouca e com um sotaque melodioso e aquele representante (divino pedaço de mau caminho). Entrar assim devia ser uma maneira de se sentir muito feliz consigo, armado em forte! Sabia que estava a ser uma idiota com esta série de pensamentos mas, só queria chegar a casa e ler sossegada o meu livro de preferência deitadinha na banheira com água a escaldar. - Nesse caso...- virou-me as costas. Estava no sétimo andar. Baixei-me para agarrar na tralha. Aquele elevador estava estranho, parecia mais rápido. Ele desvio-se e colocou uma mão na porta de forma a mantê-la aberta enquanto eu saia com toda a minha tralha. Agradeci e passei por ele inspirando aquele perfume. Raios de homem, tinha um encontro marcado com o Edward e uma banheira cheia de jactos de água e sais perfumados e uma caneca cheia de chocolate. Entrei em casa, sem olhar para trás e atirei tudo para um canto, enchi a banheira e decidi-me por um copo de vinho aquecido com canela. Alcoólica pensei para mim rindo-me. Se a Susana estivesse em casa tinha-o dito, para nos rirmos com a parvoíce enquanto me ajudava a preparar. Agarrei no meu livro, no meu copo e deslizei o meu corpo nu para aquela maravilhosa cama de água. Comecei a ler. Tocou a campainha. A chapinhar e enrolada numa toalha fui à porta. A toalha era de um bom tamanho o pior era o cabelo que estava solto e a pingar-me pelas costas abaixo. Devia ser a vizinha velhota que achava que eu ia a um encontro. Era seu costume vir desejar-me sorte e bebericar um nespresso. Abri a porta com um sorriso estampado. Achava graça a velhota. -Boa noite eu...- O sorriso brotou-lhe dos lábios enquanto olhava a minha figura. Que maravilha! Primeiro tinha parecido uma tonta mal-humorada e descuidado no elevador e agora parecia uma doida molhada que abria a porta semi nua. Enrubesci ate a pontinha dos pés. Felizmente tinha a depilação feita ainda pensei e repreendi-me pelo fútil pensamento. -Sim?! Enganou-se na porta? - Hum... bem não! Vim trazer-lhe estes envelopes que deixou caídos no elevador. Já percebi que a altura é inconveniente.- Disse apontando para mim e para o trilho de roupa espalhada até à casa de banho. Ri-me, mesmo sem achar piada. Outro que achava que eu estava num encontro. Ora podia juntar devassa à lista de coisas que o homem acharia de mim. - Bem, isso é subjectivo! Agradeço a sua atenção mas podia ter deixado as cartas na minha caixa.- Ele que me achasse uma devassa, queria lá saber. Queria voltar para a minha banheira e para o meu Edward, afinal estava quase no casamento. Senti uma gota grossa e fria que me escorria pelo pescoço e estremeci de frio. Com uma enorme rapidez e suavidade ele passou-me o dedo pelo pescoço e recolheu-a. Estremeci, ele também. Silêncio incómodo o cérebro vazio. - Bem eu vou indo. Desculpe o incómodo!- E saiu com uma incrível rapidez e direção ao elevador que, claro, estava à sua espera. Só comigo mesmo. Pousei os envelopes e fui para a banheira assistir ao casamento do Edward com a sua Bella. Não me consegui concentrar o toque e o cheiro daquele estranho não me saia da cabeça. No dia seguinte, voltei novamente o mais rápido que pude para casa. Ele estava à espera do elevador junto da “minha” velhota. Ela abriu um sorriso que retribui e a ele enviei um esgar. Ela começou a perguntar-me acerca do meu encontro da noite passada e ele sorria de forma deliberadamente desafiadora e divertida. Quem raios era aquela figurinha com pecado impressa por todo o lado? - Então conte lá. Foi um bom encontro? - Sim, bastante relaxante e entusiasmante. Como poucos do gênero. pensava na história e nas personagens. - A sério?! Que bom. E onde foram? Ele levou-a a um sitio bonito. Entre dentes ele respondeu: - Ao interior do apartamento. - Ah! Já ficaram por casa?! Mas como sabe disso Sean? - Fui entregar correspondência. E interrompi um momento molhado. Mas não lhe senti o cheiro nem rasto.- Disse divertido entre dentes. Ri-me em fúria e sem querer saiu-me um GRRRRR. Bolas tinha que começar a socializar mais com pessoas que não os meus amigos ou colegas de trabalho. O facto de ele não ser nativo aqui do sitio ficou registado e aparentemente era um habitué nas ocasiões do condomínio. Um socializador, branquela, lindo, lindo e com sotaque raios... eles continuaram a conversar até eu sair. As portas fecharam-se atrás de mim e voltaram a abrir-se. - Lara, não se esqueça da festa desta noite. Na piscina Interior, traga um presente.- Disse a minha velhota.- E pode trazer companhia se quiser. Merda! A festa do condomínio. Uma festa de Natal em biquíni. Onde já se viu? Todos os anos a mesma coisa. Às 8horas lá fui eu de fato de banho vestido debaixo do meu vestido preto. Ri-me era sempre a mesma indumentária. Passei a noite a tentar não estar perto dele, tentando ler o meu livro escondido na enorme mala que tinha trazido comigo. Como sempre não consegui, tinha os vizinhos em pleno espírito natalício a ser simpaticamente comunicativos. Despi o vestido e atirei-me à água. O silêncio enquanto estava submersa era um balsamo reparador. E lá estava ele. Sentado no fundo da piscina a olhar para mim, com o seu corpo perfeitamente esculpido e o seu sorriso magnífico. Não conseguia tirar-lhe os olhos de cima. Estava submersa à demasiado tempo, aparentemente só ele reparou nisso. Veloz abraçou-me pela cintura e fez-me deslizar até à superfície. Entre uma baforada e outra senti os azulejos nas costas. - Obrigado? Ele sorriu novamente, e limpou-me as pálpebras. Raios de homem parecia um anuncio ao colgate, sorriso sempre presente e imaculadamente branco. - Hum... pode ser! E como? Estava confusa. Falta de oxigénio no cérebro? Entreabri os lábios sem saber o que dizer. A resposta veio sem palavras, senti os lábios duros e frios sobre os meus. Um beijo sem pressas ou urgências. Quando me soltou, comecei a deslizar e como se fosse o natural ele puxou-me novamente para cima. Se fosse outra pessoa ou noutra situação eu teria respondido à letra ou até com violência, pensei mais tarde nessa noite. Os dias foram passando e iamo-nos cruzando nos espaços comuns ao condomínio eu sempre de i-pod nos ouvidos e óculos de sol na cara. Mudei os meus horários mas mesmo assim parecia a presa num estranho jogo de caça. Ele olhava-me como um predador. No inicio de Janeiro retirou-me um phone do ouvido e disse-me: -Portishead? Como saberia ele disso se o ipod estava no meu bolso e estava naquele momento pausado. Eu queria ouvir as conversas dele com os vizinhos só não queria falar com ele. - A banda sonora ideal para ler um livro de vampiros.- Respondi antes de sair. Que raios de resposta. A sua rapidez, palidez, fôlego imenso, a beleza incrível e a facilidade com que atraia todos, ate eu própria. Eu o mau gênio em pessoa. A conversa do cheiro e do rasto... céus teria um vampiro no prédio? Fiquei num frenesim. Decidi Investigar, fui ao apartamento da minha velhota e descobri onde ele morava. Quando apareci parecia estar a minha espera. Entrei tomamos vinho, já num copo e conversamos. A casa era normal, melhor que normal era muito bonita cheia de obras de arte e peças de design. Decidi fazer o teste final e tremia de medo, parti o copo e cortei-me com ele. Ele fez um curativo nada incomodado com o sangue. Mas que raios de vampiro era aquele? Entre um gole e outro fiquei a saber que era inglês e tinha sido criado na Irlanda e na Escócia. O restante podem adivinhar, o desenrolar normal para quem anda aos beijos em piscinas publicas mal se conhece. Ao fim de uma da muitas noites juntos saiu-me: - Não volto a mergulhar em livros de vampiros. Adeus Edward! Olá Mr. Darcy!