Quando decidi que tinha de matar saudades de ti, confesso que mais valia ter ido ao bar mais próximo e emborcar um copo de scotch…com gelo p'ra poder ouvir as pedras a tilintar no vidro!
Nem sei bem o porquê de tanta surpresa…ou desilusão…ou…sei lá.
E até era d'esperar…Afinal tu és um traço! Sempre gostei de passear contigo na rua…Agradava-me ver os outros gajos a olhar…Taras dirão alguns…Mas adorava mesmo…É bem feito…. Houve alguém que disse que "quem com ferros mata, com ferros morre!"…Hoje a esta distância, ainda me custa a perceber onde tinha a cabeça quando te bati á porta… Deve ser aquele tipo de merdas que ouvimos naqueles programas das manhãs da TV… Coisas tipo "destino" e "estava marcado"… coisas que sempre criticámos… Tanto os programas, como quem os apresentava, como os convidados e as monstruosidades que debitavam naqueles minutos em que eram donos de um espaço privilegiado… Mas diga-se em abono da verdade que nós também criticávamos tudo… Sempre fomos muito críticos…e eu sempre fui muito criticável… Mas tenho de reconhecer que eu era assim… Foda-se… A verdade é que eu sou assim… Pelo menos acho que sim, que sou! Sei lá!...
Canso-me facilmente. Sempre insatisfeito com a vida que levo no momento…sempre á procura de uma justificação para quebrar as regras do "jogo"…
Puta que pariu com as regras. A vida é um'aventura que não omite as regras, mas premeia quase sempre quem as consegue contornar…
A verdade (já que falamos de verdades!) é que tu também nunca ajudaste muito. Vivias muito ocupada a inventar as tuas verdades que mantinham arrumadinho esse teu mundo asséptico onde vivias… E acreditavas nesse mundo…ou pelo menos fingias acreditar! (se fingias, parabéns…) e o melhor é que eras feliz…iludida mas feliz!
E nas raras vezes que tropeçaste nas minhas mentiras (sim, também é justo dizer que eu sempre soube manter o jogo interessante e disputado) deixavas a meu cargo o trabalho de esticar o tapete de novo. Acho que me comparavas àqueles mágicos reles, que tiram pombas da cartola. Tod'ágente vê as pombas antes do tempo… Coitados, não conseguem enganar ninguém…mas também deve ser por isso que não têm programas na televisão… A verdade é que apesar de serem uma merda como ilusionistas, quando o número chega ao fim lá se faz o favor de bater palmas!
Tu eras assim… Acreditavas nas minhas palavras… (outra coisa em que sou habilidoso. E há palavras que só se deviam ouvir mediante prescrição médica… São autênticos placebos calmantes.)
Pelo menos eu gosto de pensar que acreditavas, p'ra não ter de pensar que te limitavas a bater palmas enquanto eu sacava pombas da cartola! Mas também agora não interessa muito…
De qualquer modo não podia dizer adeus sem t'agradecer. É imperdoável o facto de nunca te ter agradecido. Mas também…fiz tanta coisa imperdoável!
De qualquer modo agradeço-te agora. Obrigado por me teres viciado no amor (amor não tem p'ra mim a mesma definição que p'ra ti… mas isso já sabes).
Posso ter sido um cabrãozinho, mas não esqueço que foi contigo que me viciei na arte d'amar…
Que sejas feliz…a sério que sim. Sem ressentimentos…Feliz ou iludida…o que te der mais jeito!
Eu vou continuar a tirar pombas da cartola. 'Tá-me no sangue… A verdade é que acho que não serei nunca capaz de morrer sozinho… Preciso sempre d'alguém lá, para no fim bater as palmas…
A propósito, quem é o tipo que m'abriu a porta?!
Jun2006
@Por Killimanjardas