Olá!
Escrevo-te hoje para te dizer aquilo que poderia ter-te dito em tantos outros dias mas, hoje, o tempo parou enquanto penteava o cabelo e fazia uma trança.
Andei pela casa, sai para a minha reunião e quando depois de mil cafés, já sentada na sala de reuniões pus a mão a trás das costas e senti o fim da trança. O meu cabelo está do tamanho do teu. E lembrei-me de ti e do cheirinho a sabão do teu cabelo!
Lembrei-me daquelas vezes, parcas, em que te abraçava a cintura e levantando um pouco o braço te tocava no fim da trança e sentia a maciez do teu cabelo!
Passei o resto da tarde assim a lembrar-me de ti e a imaginar que aquele pedaço de fim de trança era o teu!
Enrolei a trança num coque como costumavas fazer mas faltava-me a tua “penteadeira” ou o teu “travesseiro”.
Perguntei a tanta gente por elas... acho que nenhuma resistiu.
Liguei à minha mãe e perguntei-lhe pela tua camisa branca com florinhas pequeninas. A que tinha uma gola branca sem goma e que usavas para ir às missas de Domingo... Lembras-te dela? Ninguém sabe dela!
Apetecia-me tê-la!
Hoje senti-te em cantos e recantos e “cheirei-te” quando abracei o meu pai e ele, que nem desconfiava, me disse: “Então, Rosinha... a relembrar?!”
Brincou com o meu cabelo, penteado quase igual ao teu e dizia “falta-te o travesseiro”...
Rosinha era o que me chamavas desde que fiz 12 anos! Lembro-me da primeira vez que mo chamaste, tinha uma saia preta e uma camisola preta às riscas cor-de-rosa, estavas a sair do carro da tua filha e vinhas para a minha casa. Dei-te um abraço grande e tu retribuíste com um muito maior. Chamaste-me a tua Rosinha e fiquei sempre a ser, a tua Rosinha... até ao fim... eu era a flor de que mais gostavas.
Adeus e até “para sempre”
Um beijo sossegado e um abraço apertado da neta que nunca te ensinou a ler mas sabe de cor os teus cheiros e gestos!
Um miminho no fim da tua trança, ninguém a tem como tu tinhas e em mim será sempre única...
Da tua,
Rosinha