A tua respiração era baixa e suave como a de um bebé e fazia-me cócegas no umbigo onde repousavas adormecido. No lusco-fusco via o teu relógio Diesel... como se o tempo ainda precisasse de fuel! O tempo que passava tão depressa ainda era derivado de gasolina... isso sim, era digno de ironia! E daria uma gargalhada não fosse ter a certeza de que te iria acordar. Voltei a recostar-me nas almofadas e esperei mais um pouco. Não acordavas... sai de mansinho enquanto a tua respiração acariciava a superfície das almofadas.
Roubei umas túlipas do jardim da tua vizinha e de túlipas a sair da mochila lá fui eu até ao escritório. Mota estacionada no subterrâneo e um chorrilho de cumprimentos e pareceres bem-humorados acerca das minhas flores lá cheguei ao meu próprio gabinete. O tempo durante aquela madrugada ainda estava decorrer a alta velocidade, parecia marcado por fuel com octanas para carros de fórmula1. Entrei no escritório a rir.
Há hora de almoço lá estavas tu no hall do edifício, à espera da tua prima. Como sempre, passámos um pelo outro com cumprimentos cordiais e semi-sorrisos. O teu olhar estava divertido e imaginei o que te ia na cabeça...Sabia o que ia pela minha!
Quando cheguei do almoço ouvia-te a falar na sala de reuniões... como sempre as mulheres lá do escritório estavam maravilhadas contigo, umas porque queriam o miúdo mais novo para elas, outras queriam apresentar aquele “bom miúdo” às filhas, sobrinhas, enteadas... se elas soubessem?! Senti pela primeira vez uma pontinha de culpa... vivia bem com a relação que tínhamos! Sem compromissos, sem promessas, sem falsos “Amo-te” para não magoar e prender... vivíamos o que sentíamos sem ninguém a chatear-nos! Mas sabia que um dia darias um excelente namorado... eu, já tinha sido namorada...não tinha paciência, e não sabia lidar com certas situações... especialmente aquelas que magoam profundamente!
A Sónia ligou a acertar detalhes para o fim-de-semana em Londres... O que eu gostava daqueles fins-de-semana! Vieram chamar-me para um briefing e lá corri contigo e as tuas fãs da sala de reuniões. Passaste por mim e tocaste-me suavemente nos seios.((Hummm!))
- Prazer em ver-te! - Disseste tu em voz alta enquanto me beijavas a face. Enquanto sussurravas: Acabo o resto mais logo! - Até um destes dias mantinhas a proximidade física e ficamos a olhar um para o outro.
- Igualmente! – Espero bem que sim! –Sussurrei eu enquanto te passava a mão pelas costas, protegida pelo blazer. - Até um destes dias então! Apareça para a semana e tome um chá connosco! - Bolas ele era mesmo novinho...a diferença entre nós eram uns seis anos mas... por vezes senti-me uns 15 anos mais velha... uma sénior!
- Chá?! Algum motivo em especial? – Perguntaste como se não soubesses e o teu olhar brilhava.
- Vai para Londres este fim-de-semana. Coitados dos ingleses… vai deixar a cidade do avesso. – Dizia a prima dele e sorrir e empurrou-o para a saída. - Temos de começar! Até depois!
Despediu-se novamente da porta desejando-me boa viagem… tinha aquele sorriso maroto no olhar.
Quando a reunião finalmente terminou já era noite. Voltei a colocar as túlipas na mochila e lá fui eu qual esotérica maluca pela rua até casa. Ainda a recordar o teu toque. Ligaste perto da meia-noite para saber se lá podias passar para te despedires... Uma despedida que durou até à hora do táxi me vir buscar! Voltamos a beijar-nos com o taxista a desesperar.
- Não cedes mesmo? -Querias levar-me ao aeroporto. Acenei que não! Passei a viagem a pensar... sentia-me ainda embriagada com o teu cheiro e as sensações de prazer impressas por todo o meu corpo. No limbo entre o sono e a realidade lembrei-me de como nos conhecemos: numa daquelas festas de Verão da empresa em que a tua prima te tinha levado como par. Passámos semanas a trocar cumprimentos de circunstância. Até que numa das muitas noites de serões chatos de trabalho nos tinhas levado um “jantar da meia-noite”. E mesmo depois do trabalho pronto ficámos a conversar Os três e pela primeira vez percebi que havia mais em ti do que o palminho de cara e acabámos por fazer faísca.
Tu, insistentemente, começaste a aparecer em todo o lado: jantares de empresa, saídas de colegas, durante o expediente… Fingia que não percebia. Até ao aniversário da tua prima em que finalmente sucumbimos os dois. Já lá iam uns cinco meses.
Quando sai de uma reunião na Segunda-feira e entrei no escritório lá estavas tu à minha espera para matar saudades. O que queria dizer que não faria mais nada durante aquela tarde!
Felizmente as paredes não contam… Eu era uma mulher experiente mas tu, davas à palavra inventivo um novo significado. Tu e o teu tempo a Diesel... Algumas semanas depois estava eu novamente a levantar-me de mansinho quando acordaste... andavas algo estranho...Imensas prendas, imensas visitas de surpresa ao escritório... apoiaste a cabeça na almofada de forma a só te ver os olhos... Adorava ver-te acordar!
- Já vais? - Acenei que sim enquanto calçava as botas. - Mas será que não podes dormir cá uma noite? Só uma que seja?
Parei. Nunca tínhamos falado nisso. Mas não me sentia à vontade. Era algo que não fazia e ele sabia disso. Ele queria que as coisas fossem diferentes! Uma coisa séria! Estava apaixonado por mim. Bem, eu… estava apaixonada… por ele (e pela minha liberdade também). Sabia-o bem mas nunca lho dizia. Nunca ninguém havia impregnado toda a minha existência como ele. Ficámos pelo silêncio e eu não roubei túlipas naquela manhã, ele não apareceu durante semanas na empresa para ir almoçar com a prima. Ouvi várias vezes o comentário: Andava mal de amores! Por parte das suas diversas fãs… E céus... exasperava! Ciúmes!
“You can’t always get what you want” era um verso de uma música dos Rolling Stones ... but you always want what you can’t get! Parecia ser o meu caso. Quando finalmente me apaixonei, tinha de ser por alguém que dificilmente poderia vir a realmente ter...E tinha medo do sentimento... de me sentir presa...o engraçado é que tantas vezes tinha brincado com ele por ser mais novo... mas...ele...sabia exactamente o que queria!
Certa manhã, entrei na sala do café e lá estava ele. Com o grupo do costume. Bem disposto, com cheiro de banho acabado de tomar, cabelo ainda húmido. Olhava para mim directamente e os olhos começaram a despir-me! Corei como se fosse uma miudinha no liceu.
Com os habituais cumprimentos cordiais, comecei a preparar o meu café! Ele levantou-se e parou ao meu lado enchendo a sua chávena.
- Mudaste de champôs! – Acenti continuando o que fazia. – O teu cheiro, no entanto, continua na mesma! – E cheirou-me inalando profundamente.
Virei-lhe as costas e sentei-me à mesa com as restantes. Ele veio sentar-se ao meu lado. Entrei na conversa. Apercebi-me de uma mão na minha coxa. Não olhei para ele. Elas continuavam a falar de um livro que lhes tinha recomendado enquanto eu, fazia um enorme esforço para conter gemidos e estremecimentos. A tua mão tinha encontrado o seu caminho e encontrava-se agora a separar-me as pernas e a acariciar zonas erógenas que eu desconhecia. Era uma tortura… Não aguentei e estremeci…
- Está bem? – Eu fiz um gesto com a cabeça. Se falasse naquele momento todas perceberiam o que se passava. - É daquela mota. Só dá trabalho e ainda por cima tem de andar sempre a trocar de roupa. Estou sempre a dizer-lhe que se agasalhe… ou melhor ainda compre um carro!
Ele continuava a sorrir e interveio dizendo que provavelmente era uma corrente de ar, ou o ar condicionado. Levantei-me e pigarreando disse que ia tomar uma aspirina. Quando julgava já estar a salvo ouvi atrás de mim.
- Ele ficou muito interessado no livro. Tens um no teu escritório, não é? Podias emprestar-lho?
Tive ânsias de o esganar, especialmente pelo sorriso satisfeito que tinha no rosto. Podia ver as minhas mãos à volta do pescoço dele mas, concordei com um acenar. Vieram ambos comigo. ((Uf! Sentia as pernas bambas)) Encontrei o livro e entreguei-lho sem o olhar e liguei a aparelhagem.
A presença dele ali dava ânsias. Sentia-me uma tonta… mas já só pensava em tê-lo ali nú e saciar o desejo e a saudade daquele sentimento que só sentia com ele. Eles continuavam a conversar e sentaram-se no meu sofá. Chamaram-na… Ela despediu-se dizendo que já voltava e ele levantou-se. Caminhei até à porta e estranhamente ele acompanhou-me. Aparentemente já tinha conseguido o que queria. Parou à minha frente e fechou a porta devagarinho. Colocou-me uma mão no pescoço e com a outra levantou-me a coxa. Arrancando-me as cuecas de um só puxão. Soube imediatamente o que se iria passar a seguir. Ele sorriu e apertou-me contra ele.
- Ela volta! - Foi só que me lembrei de dizer. Enquanto lhe desapertava as calças. Entre um beijo e outro respondeste: - Nesse caso teremos de ser rápidos!
Quando terminámos não conseguia desenlaçar as pernas da tua cintura e sabia que estávamos ambos húmidos e a escorrer o resultado das nossas saudades. Finalmente desenlacei e colocaste-me no chão. Fiquei encostada à parede enquanto tu te dirigias à minha secretária.
- Ainda guardas os lenços e toalhetes na segunda gaveta? – Tinhas uma expressão satisfeita no rosto e a tua voz estava rouca e deliciosamente meiga. Acenti. Ia aproximar-me de ti quando bateram à porta. Fechaste a braguilha a pressa e fechavas os botões do casaco quando disse que entrasse. Pisei as cuecas que estavam no chão e pedi aos céus que estivesse apresentável. Vieram trazer-te o telemóvel que tocava insistentemente. Atendeste ali mesmo enquanto eu tentava perceber como tinham as cuecas ficado daquela forma irreparável e ele se ria. Sentei-me à secretária fingindo trabalhar enquanto não terminavas.
- Tens de ser mais cuidadosa ao sentar-te hoje. - Disseste tu. Empoleirado na minha secretária. Imediatamente apertei as pernas. Já me sentia recomposta.
- Serei cuidadosa. – Parei o que fingia estar a fazer. – Como tens passado?
- Hum já recuperaste o controlo! Bem, estive fora a trabalho! Voltei esta madrugada e vim matar saudades! Piscou-me um olho.
- Saudades de uma rapidinha? - Ele franzia o sobrolho.
- Não, de te sentir. Mas, já percebi que mais uma vez não terei o que quero.
- Pensa assim: se uma relação comigo não fosse o fruto proibido não te interessaria tanto! Falamos várias vezes disso… não nos enganámos durante o tempo que estivemos juntos! Poderias inclusive ter estado…
- Eu sei daquilo que falámos e sinceramente parecia-me a combinação perfeita. Sem compromissos e nada de mariquices sentimentalistas. Mas agora pensa tu nisto: estivemos sem nos ver? Estivemos com mais alguém? Não. Nutres sentimentos por mim e sabes disso. Só não queres assumi-lo! Estou a ser um perfeito tonto…Bem, façamos as coisas à tua maneira: já matei saudades… quando tiveres saudades sabes onde encontrar-me! E não, não vou sentir-me usado e também não estou a usar-te!
E saiu com toda a calma! Fiquei furiosa com ele, pela maneira como me tratou… Raios! Não ia dar-lhe razão, ia tratar aquele affair como todos os outros!
Dois dias depois apareci no escritório dele. Ele estava sentado à secretária a acabar um telefonema. Tranquei a porta, dirigi-me a secretária enquanto atirava o sobretudo e a mala para o chão. Coloquei-me debaixo da secretária e abri-te o fecho, percebi que ias dizer algo. Fiz-te calar… o resto ficou entregue a lembranças que pairam no teu tempo com fuel!
Aquela seria mesmo a última vez. Disse-lho… ele não comentou…
Na festa de Verão da empresa um ano depois de nos termos conhecido... lá estavas tu... encostado à balaustrada... Cumprimentámo-nos sem nos tocar. À mesa despiste o blazer e na t-shirt tinhas escrito: “You can’t always get what you want but, you can try! Can I?”