There is always more then meets the eye!

29
Dez 05

São 10hoom, marca o relógio de parede, mas poderiam ser outras horas ou outros minutos!


Nesta manhã de nevoeiro em que todos parecem apressar-se para apressar a vida, o sussurro preso na garganta, parece ganhar vida e por entre o lábio superior e a chávena de fumegante sai: “A vida não acaba mais depressa por andarem a correr atrás do tempo!”


Ninguém o ouviu…mas ele saiu, muito de mansinho! … Mas nem os ouvidos do senhor que partilha comigo o balcão parece perceber a língua do meu sussurro!


Inscrevi-me numa escola em que aprendi as línguas mais faladas, visitei os países, falei a língua deles, a do meu país e entenderam-me. Quando falei a minha fala, as minhas palavras o mudo ensurdeceu!


Comecei a brincar com a colher no líquido quente da minha chávena, fiz espirais e vácuos e senti-me o próprio líquido em espiral na enormidade de pessoas que enchiam o café e as ruas do outro lado do vidro.


Recomecei a beber o líquido que saia da chávena esfumegante!


No jornal matutino o horóscopo estava mais cinzento, as notícias mais negras e as fotos mais degradantes do que era habitual! Sai abandonando o jornal e dirigi-me para o metro!


Para não romper a monotonia a carruagem ia cheia de pessoas que pela manhã colocam a máscara do lobo mau. Novo sussuro preso na garganta… e desta vez nem com a mão sobre a boca ele ficou calado.


“ Quanto terei ainda percorrer para encontrar alguém que fale as minhas palavras!”


Ninguém pareceu perceber que o meu sussurro tinha escapado por entre os dedos da mão enluvada que queria prendê-lo! Só o mendigo, ébrio de bebidas destiladas, perfumado com cheira mal desde 1900,  pareceu ouvir-me! Com olhos amarelados olhou para mim. Saiu-me novo sussurro. Ninguém pareceu ouvir, ele voltou a olhar-me com olhos esbugalhados!


Alguém ouvia a minha voz! Alguém entendia as minhas palavras!


Sai do metro na minha paragem habitual e sorri-lhe com um: - Bom dia!


A que ele me respondeu numa das línguas estrangeiras que estudei. Sai da estação para o nevoeiro, vento frio a abarcar-me o corpo, ouvidos abertos para as palavras e vozes dos outros!


Se uma pessoa me ouvia eu poderia ouvir outras pessoas a falar as suas palavras e talvez elas pudessem ouvir-me e eu ouvi-las!


publicado por crowe às 19:23

19
Dez 05

Pés no chão…Olhar na massa difusa de corpos perdidos no escuro… nublados pelo fumo de bocas alheias!

O cabelo roça-me as costas nuas que a camisola teima em não cobrir! E … descobri porque usam as mulheres o cabelo longo: nenhuma mão pode acariciar-nos com tamanha suavidade. Não, não usamos o cabelo longo por causa dos homens, usamo-lo assim porque ele nos mima sem querermos.

Danço ao ritmo que sinto, o meu!, não o da música.

Com a língua sinto ainda o teu gosto nos meus lábios e sorrio. Abandono a pista e deito-me no sofá com a cabeça no colo do único homem que conheço a quem posso contar a minha recente descoberta sobre o cabelo: o David! Naquela madrugada como em tantas outras saímos para a noite em busca do anonimato e do abandono do telefone! Conto-lhe e ele ri-se (como quando come chocolate)… quem nos vir imagina-nos amantes, namorados … Doidos … destrambelhados … embriagados... sei lá! Mas nunca imaginarão que somos só amigos! Impossível sermos algo que não e, somente, amigos!

Cada um com a sua paixão quase impossível, cada um apaixonado por um homem quase inatingível! Com a conversa, os risos, e o cabelo a acariciar-me as costas, sinto novamente o gosto salgado da tua boca na minha…apetecia-me beijar-te! Um beijo sério, sentido, apaixonado… sem rótulo possível! Quando o fumo desapareceu e com ele as bocas que o expeliam, desligaram a máquina que ajudava a produzi-lo e os empregados começaram a varrer a pista… saímos para um pequeno-almoço matutino… E num daqueles bares de praia, embrulhados nos casacos um do outro, bebericamos chocolate quente (o meu sabia a ti!)… e rimos das ideias tipo “algodão doce” que nos povoaram a mente toda a noite, das  tipo “malagueta” e das tipo tempestuosas… Poderíamos fazer um filme…

Pareceu-me ver o cão do Rui a correr na areia da praia(suave como marshmallows) e quando os olhos do David se iluminaram… percebi logo que ia ficar sozinha ali o resto da manhã!

Fiquei sozinha mas feliz pelo companheiro de fantasias, aquele que me afastou do telefone… mas me deixou falar de ti toda a noite!

Com o teu gosto na boca, o teu cheiro em mim, o cabelo a acariciar-me as costas e um sorriso maroto nos lábios subi as escadas para em casa encontrar um atendedor de chamadas repleto da tua voz!

Ri enquanto te ligava… Senti um gosto amargo na boca (como se acabasse de mastigar uma goma ácida) enquanto falava com a mulher que me atendia o telefone. Fingi uma urgência (tipo bolo a queimar)! Quando te acordou e te passou o telefone o gosto a ti era cada vez menos doce, nem a tua voz rouca a adocicou!

Dei-te os bons dias e esperei… No teu silêncio suspirei e desliguei!

Ainda relembro o teu sabor cada vez que sinto o cabelo a roçar-me as costas nuas!

A única coisa que consigo pensar é que a loja de doces fechou! Nunca ninguém tocará ninguém como o cabelo nos roça as costas mas também ninguém saberá aos sabores doces como tu!

publicado por crowe às 18:49
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