-Mãe, conta-me uma história dos outros tempos!
Ela sentou-se na cadeira de baloiço ao lado da cama da sua menina, pegou-lhe ao colo e embrulhando-a com todo o cuidado numa manta começou.
- Era uma vez no tempo em que as andorinhas voltavam na Primavera e faziam um ninho, ali – e apontou para o beiral – e acordavam toda a casa pela manhã com o seu cantarolar.
-Mãe, conta-me outra vez como eram as andorinhas!
- As andorinhas eram aves negras…
- Mas não eram a mesma coisa que corvos disse ela a sorrir esticando o seu dedinho, tocando num ecrã. Apareceu um corvo.
A mãe sorriu, com aquele sorriso que só as mães têm. Tocou no ecrã e mostrou-lhe uma andorinha.
-Não, não eram como os corvos. Eram diferentes!
- Mãe, conta-me como eram os ninhos daqueles tempos. - E enroscou-se no colo da mãe.
A mãe, como todas as mães, com toda a paciência e o melhor que conseguia explicou-lhe como as andorinhas faziam os ninhos. Os olhos da menina, nublados pelo sono, piscavam e os seus lábios sorriam. A mãe embalava-a com doçura e maravilhava-se com a curiosidade do seu pequeno ser, resultado de amor.
- Oh mãe, se eu adormecer no teu colinho hoje amanhã as andorinhas voltam para o nosso beiral e fazem lá um ninho?
Como explicar à menina que já não havia andorinhas? Que não existiam muitos animais e que os que existiam estavam quase extintos? Como explicar-lhe que a culpa era somente humana e nada alteraria o passado?
- Vamos combinar o seguinte: tu adormeces no colinho da mãe e sonhas com as tuas andorinhas e pode ser que um dia elas voltem e façam ninhos debaixo do teu beiral!
A menina sorriu confiante. Adormeceu a pedir que a mãe lhe falasse mais das andorinhas e a mãe adormeceu-a esperando que um dia a sua menina visse andorinhas.