
De uma janela
Vejo o mundo mascarar-se de branco.
As nuvens crescem e expandem-se
Elas misturam-se com o céu
E o céu com a terra
Como numa aguarela!
Um branco frio,
Cai em flocos com candura
Beija o ar
E esmorece na palma de uma mão
Pequena! Mão quente de criança!
O Inverno
Visita-me e aloja-se na minha janela!
publicado por crowe às 13:31
Encontro-te por vezes. Encontro-te e reconheço-te como sempre o fiz, inúmeras vezes, reconheço o teu cheiro, a tua voz, e a tua lânguida dança com a vida é-me familiar desde há muito. Chamo-te por um nome que respira quietude e acalmia, que sabe a confidência temperada com companheirismo fraternal, e em cujo ameno clima me gosto de perder e encontrar. Os nossos ombros são velhos conhecidos, entendem-se, percebem-se, são irmãos. Sirvo-te de cicerone pelas ruelas esconsas e lúgubres da minha vida, nos dias em que nuvens carregadas de raiva e dor atiram selvaticamente o mar contra a barra, levo-te, ao mesmo tempo, aos mais belos e solarengos miradouros, nos dias em que o Sol se espraia preguiçosamente nas pedras da calçada e brinca às escondidas com os meninos de rua. Tenho o teu sorriso emoldurado numa galeria que visito de tempos a tempos, onde fazes companhia a mundos que em tudo são iguais e que em tudo são diferentes. Reconheço-te. E isso apraz-me.
Noutros dias, em que nos viramos do avesso, em que nos tornamos pantomimos e cantores, músicos e dançarinos, em que o aprendido e provado, tornado hábito reiterado, sucumbe ao jugo do instinto, ofuscas-me com o brilho da diferença, vestes-te de uma sensualidade felina e explodes numa imensidão de sentidos em fugazes segundos. E sinto um formigueiro ditador e ciumento, que se torna impossível de ignorar, que é avaro na libertação mas célere na escravatura. Agacho-me, brinco com uma terra que cheira a gravidez de vida, pego num gomo de pedra dura e penso em estraçalhar a moldura na qual sorris para mim, desse modo que é só teu, com um golpe certeiro. E no meio do furacão de violência e destruição deste gesto, o términos mescla-se com o nascimento, e a vontade de pintar um quadro novo só para ti, no qual me esqueço da tua cara apenas para a descobrir com os meus dedos, brota dentro de mim como uma água pura e cristalina.
Mas opto sempre por te continuar a reconhecer.
@Autor: Mr.Utopia
publicado por crowe às 10:03